Uma outra vez.

Brasileiros e falantes da língua portuguesa.

  1. Rafafa

    Rafafa Fapstronaut

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    Pra mim acontece a cada 7 dias geralmente, acredito que o corpo produz esperma ou algo assim, eu li em algum lugar que depois de gozar, depois de 7 dias nós temos um pico do hormonio tosterona. E pra mim é geralmente isso mesmo, na faixa do 6 ao 8 dia a coisa fica feia, depois tranquiliza, ai depois volta o ciclo, geralmente eu caio por volta desse dia, e ai começa o ciclo, mas ultimamente não tenho tido vontade nenhuma, e fico feliz.
     
  2. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Dias 27, 28 e 29

    Tudo certo até hoje. A vontade (como no dia 26) retornou. Fui mais fraco do que naquele dia, e ao invés de pesquisar termos indiretos, pesquisei diretamente P. Apenas fotos, mas P. O ridículo é que isso me aconteceu enquanto eu estudava italiano no Duolingo. Literalmente qualquer coisa pode me fazer cair em tentação quando estou com estes urges, inclusive palavras soltas, palavras que essencialmente não tem nada de P, mas que me remetem a P. Não tem para onde fugir.

    Eu acho que isso é resultado de algumas fraquejadas que dei nos últimos dois dias. Eu silenciei os stories no instagram de algumas pessoas que têm o costume de colocar coisas sensuais, ou que me despertam por qualquer motivo. Mas nos últimos dois dias eu tenho visto mesmo assim. No momento não é grande coisa, não me desperta quase nada, mas eu acabo fazendo mais e mais nos dias seguintes, e hoje acordei sem conseguir parar de pensar em S e em situações passadas (sobretudo com a pessoa dos stories). E então, depois disso, estudando como falei, acabei pesquisando no google imagens fotos de P não uma, mas três vezes intervaladas. Essa é a estratégia do vício: no comecinho das fraquejadas, dos pequenos vacilos, parece que não foi nada. E realmente você sente que não foi nada, porque não ficou afetado. Mas no fundo você o alimentou um pouco, e ele ganhou força, e em muito em breve terá os resultados. É como um animal que precisa se alimentar: depois de muito tempo desnutrido, se você der um pouco de bife ele não vai ficar forte ou recuperar a energia imediatamente. Mas no dia seguinte estará mais disposto, e pouco a pouco retomará o tamanho anterior. Não devemos fraquejar em NENHUM momento. Qualquer erro, por menor que seja, tem consequências.

    Não vou resetar a contagem porque foi só imagem, eu estava mais em choque do que "apreciando" as imagens, e durou só poucos segundos (mais do que no dia 26, mas ainda assim muito pouco). Infelizmente isso que eu fiz foi bem mais do que dar um pedaço de "bife" pro vício, está mais para dar uma peça inteira. Ainda hoje ou amanhã tenho certeza que ele vai atacar mais ferozmente ainda, mas devo encarar como a consequência esperada do meu erro. Espero ter forças.
     
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  3. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Dia 30

    Consegui! Como eu previ, veio um urge ainda maior no final da tarde, e para piorar fiquei sozinho de forma inesperada. Eu realmente não sei como não recaí, porque foi até mesmo fisicamente difícil. Mas não recaí.
     
    Last edited: Nov 24, 2021
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  4. ferret XD

    ferret XD Fapstronaut

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    Boa, bole um plano para os momentos mais difíceis passarem a ser mais fáceis, entendo que ficar em casa só é bem complicado e já perdi para isso.
     
  5. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Eu geralmente procuro ficar longe do computador, andando, e coloco canto gregoriano para escutar. Em situações extremas tento tomar banho gelado ou segurar uma pedra de gelo até ficar insuportável. Mas nem sempre é o suficiente.
     
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  6. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Dias 31 ao 38

    Passando apenas para atualizar que está "tudo bem". Lidando melhor com os urges, embora estejam se tornando menos intervalados. Eu acho que é em virtude do calor, moro num lugar muito quente. Sempre achei que a temperatura influenciava nisso, mas não pesquisei sobre.
     
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  7. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Dias 39 ao 44

    Ainda tudo certo, com alguns poucos deslizes. Eles não eram para acontecer, mas eu consigo parar bem rápido antes de algum mal maior. Apesar disso, acho que estou indo muito bem comparado com as outras vezes que tentei parar. Faz tempo que não batia um streak tão grande.

    Ontem eu decidi fazer S. Foi meu aniversário de dois anos de namoro, e a decisão não foi motivada por nenhum urge e nem nada físico. Foi algo que eu não sentia há muito, muito tempo: vontade de S inspirada pelo contexto, pela pessoa, significado e romance. Eu estava tendo uma noite muito bonita e senti essa inclinação. Por isso não vi problemas em "ceder", se é que devo chamar dessa forma. E foi ótimo! Pela primeira vez em anos não senti quase nenhum efeito de PIED; e em nenhum momento, nem por um milésimo, pensei em P (e eu acho que é a primeira vez que isso aconteceu, desde que perdi a virgindade). Fiquei muito feliz, mas ao mesmo tempo a sensação é estranha: se algum dia já tive S assim, não me lembro mais. Parece que foi a primeira vez. Ficou bem evidente o quanto o vício em PMO me escravizou, a ponto de eu sequer lembrar de já ter feito S corretamente...

    Não bastasse isso, até agora não tive nenhum efeito caçador (e eu SEMPRE tinha). Fiquei sozinho o dia inteiro, e está tranquilo. Pela primeira vez desde que comecei a tentar parar eu sinto que estou me curando, de verdade. Parece que tem luz no fim do túnel.

    Apesar de ontem, eu não vou ficar em easy mode. Essa decisão foi muito contextual, para uma data especial, para ser em tudo especial. E foi motivada pela melhor das razões. Mas não quero voltar a ter vida sexual ativa tão logo... fica meio como uma marca da metade da jornada (amanhã faço 45 dias, afinal). Só voltarei a ter S quando bater 90 dias. E eu realmente estou sentindo que vou bater esta meta!
     
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  8. Lecovesck

    Lecovesck Fapstronaut

    Boa cara!
     
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  9. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Derrota.

    Pois é, eu caí. Depois de 65 dias, caí. Não sei nem o que dizer. Me sinto uma fraude nestes momentos, é difícil de entender. Não é autopiedade, só não consigo entender... eu sou tão diferente disso em todas as outras áreas. Procuro ser muito rígido e zeloso em todas as partes da minha vida, desde o modo que me visto e falo, até minha rotina de estudos e trabalho e meu código moral. Meus amigos até zoam de mim por isso, me chamam de caxias. Mas quanto se trata de PMO, eu simplesmente sou fraco demais. Sou o oposto de tudo o mais na minha vida. Não sou eu mesmo.
     
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  10. Lecovesck

    Lecovesck Fapstronaut

    PMO é uma droga...Vicia muito mais do que as outras. Mas lembre-se que não vale a pena, eu mesmo já vi tantas pessoas destruídas por ela, pessoas que só tinham cascas e nada mais. Tente se lembrar desse sentimento de "derrota" quando surgir a vontade de novo.
     
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  11. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Dia 1

    Contei para meu namorado sobre a recaída e a reação foi péssima. Fiquei pior ainda. Parece que ele trata o esforço que ele teve que fazer nestes dias como o mesmo esforço que eu tive que fazer, e isso não é verdade. Nem de longe é verdade. Faz malditos 15 anos que sou viciado em PMO. Desde meu primeiro contato com sexualidade, foi através de P. Não é simplesmente uma questão de "aguentar firme" e "ter força de vontade". Minha cabeça inteira, no que toca S, está moldada em P. Enfim... vamos tentando...
     
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  12. Ovni

    Ovni Fapstronaut

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    Oie Marcus!

    Lamento pela sua recaída e pela situação com seu namorado.

    E você tem razão, não é simplesmente tão fácil quanto 'se segurar' ou 'força de vontade'. São coisas importantes, claro, mas todo esse processo vai muito além disso. Eu também fui educado até hoje somente pela p. e isso nos traz uma série de questões. No entanto, não deixe com que isso faça você acreditar que seja impossível, muitas vezes nosso cérebro usa desse artifício para nos fazer abandonar do processo. Por fim, tente conversar com ele, explique sobre essa questão, vocês precisam agora um apoiar o outro, de chegar em acordos que sejam bons para ambos.

    Se você puder, pense sobre sua recaída, e penso no que pode ter te levado até ela. Às vezes algumas coisas podem ser óbvias e outras nem tanto, talvez um pensamento, um gatilho, uma imagem. Busque forma de ir lidando com eles, isso faz com que você obtenha conhecimento da queda e que você aplique ele para a próxima vez. Não sei se você usa bloqueadores, mas eles ajudam bastante seu cérebro a ver a P.. como algo difícil de ir atrás. Vale também questionar sobre a rotina, como ela tem sido, se você tem passado por algum estresse, ou uma situação atípica, se tem feito coisas que te dão prazer.

    Forças e boas energias, querido!
    Abraço.
     
  13. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Obrigado pelos conselhos, Ovni. Eu geralmente tento ver o que fazer de diferente a cada vez, com base no que me faz recair... mas, desta vez, parece que o que devo fazer é simplesmente prestar mais atenção nas mesmas coisas de sempre. Eu recaí por uma clássica sucessão de pequenos deslizes que foram aumentando e no final se tornou insuportável. Já tive isso antes... Eu acho que por ter tentado bater 90 dias no hard mode tudo ficou mais difícil. Decidi que desta vez tentarei hard mode apenas no primeiro mês, e depois easy mode. Até porque depois de fevereiro me mudarei e meu namorado só poderá me acompanhar alguns meses depois, passaremos a nos ver muito pouco, o que é quase um hard mode já.

    Eu conversei com meu namorado depois e ficamos bem, mas ainda assim acho que ele poderia ter reagido melhor. De toda forma, ele não tem obrigação nenhuma de passar por isso mesmo.

    Você usa algum bloqueador? Na minha primeira tentativa de reboot eu tentei o Norton, parece que é o melhor e não vai ficar bloqueando sites nada a ver (como o facebook ou wikipedia), mas no dia seguinte o programa fez meu computador morrer e tive que restaurar o sistema. Desde então fico com medo de reinstalar. Você recomenda algum?
     
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  14. Ovni

    Ovni Fapstronaut

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    Oi, Marcus.

    É sempre bom termos equilíbrio mesmo de acordo com nossa vida pessoal e necessidades, espero que dê tudo certo. E que bom que tudo se encaixou entre você e seu namorado. Forças!

    Eu uso sim, na verdade, considero ele como um dos pilares do meu processo, sem eles, o restante não flui, assim como só ter eles e confiar 100% também não, é um combo de atitudes e métodos. Eu nunca usei o Norton, para o computador eu uso a versão gratuita do Qustodio, sempre funcionou muito bem para o meu caso. Porém, é necessário utilizar métodos de ocultar a senha, para qualquer que seja o bloqueador, é bem simples e no meu caso muito eficaz.

    No Qustodio, você tem opção de bloquear sites específicos e se eu não me engano, de 'salvar' alguns sites do bloqueio, esses nada a ver, como você citou (Wikipedia, Facebook), que porventura possam ser bloqueados sem necessidade.

    Qualquer dúvida estou à disposição!
    Abraços.
     
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  15. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Vou procurar este bloqueador, então, e dar a senha para meu namorado. Meu medo era somente essas dores de cabeça com sites normais ou algum problema no sistema, como o Norton.
     
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  16. Ovni

    Ovni Fapstronaut

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    Boa!

    Espero que dê tudo certo.
     
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  17. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    Atualização.

    Faz muito tempo que não apareço aqui, e muitas coisas aconteceram desde então. Desde minha última queda, tenho conseguido me manter, na medida do possível, em completa abstinência. Hoje faço 144 dias de nofap. Não está sendo fácil, mas está sendo menos difícil do que antes. Algumas escorregadas são impossíveis de contornar, mas nenhuma delas definitiva, a ponto de eu precisar resetar a contagem. A melhora nos urges é sensível, mas ainda estão muito longes de encerrar.

    Não se enganem, mesmo após uma contagem tão longa, a queda está a um clique de distância. Não existe, por mais que nosso cérebro tente racionalizar isso nos momentos de tentação, a estratégia de "olhar só um pouco" ou ceder a imagens mais picantes em redes sociais, para "acalmar a tentação". Isso só vai atiçar e alimentar ainda mais o vício, e no dia seguinte estará pior ainda. Mesmo com 144 dias de no-PM. Por contraditório que seja, uma queda após tanto tempo de abstinência costuma ser mais grave, e mais profunda do que no passado. Quando se sobe muito alto, o tombo sempre é maior. É um pouco frustrante relatar esta perspectiva, no sentido de que mesmo com tantos dias nofap, a vigília ainda deve ser constante, que o mal ainda está dentro de nós. Mas é isso. De toda forma, é possível.

    Sigam firmes. Estou tentando por aqui.
     
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  18. Lecovesck

    Lecovesck Fapstronaut

    Eu que o diga...Mais de um ano e meio longe recaí em 30/31 de dezembro e estou já há 5 meses com um recorde de 10 dias e no meio de diversas recaídas.
    Só discordo de que o tombo é maior...Não sinto que seja, tanto que ainda é fácil raciocinar o por quê das coisas.
     
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  19. Marcus Traianus

    Marcus Traianus Fapstronaut

    ATUALIZAÇÃO FINAL - encerramento do diário!

    Desapareci daqui por 710 dias. Quase dois anos. Muitas coisas aconteceram desde então, e confesso que estou já há algum tempo enrolando para vir aqui e escrever isso. Mas é uma obrigação pessoal, para mim, fazer isso, porque tudo que começa precisa ter um fim. E este diário, que abri em outubro de 2021, num dos momentos mais negros do meu vício, também precisa ter um fim. É com muita alegria e emoção que posso hoje escrever, sem mentiras: amigos, eu venci este vício.

    Eu sei que a frase parece pretensiosa. Mas eu precisava escrever assim, com estes termos. É quase como uma vingança pessoal por todo mal que ele me causou. Durante a maior parte de minha vida estive acorrentado, escravizado como um animal a este impulso podre. Por 15 anos ele me venceu. Mas não mais. A corrente foi quebrada.

    Sim, eu sei que este tipo de coisa soa temerária. Como posso ter certeza que não vou recair no futuro, mesmo que longínquo? "Um vício nunca é vencido totalmente", podem responder. E não nego essas coisas. Não tenho certeza que não vou recair e sei que nunca se vence isso totalmente. Mas não é isso que quero dizer com "venci a P". O que quero dizer é que a corrente está quebrada, e está mesmo. Se eu tornar a colocá-la no meu pescoço, é outra história. Não vejo o futuro, então não posso dizer, com certeza, que nunca voltarei a ser escravo dele. Mas vejo o presente, e no presente eu venci.

    Faz pouco mais de um ano que estou totalmente abstinente de P e M. No que toca O e S, minha relação com essas coisas mudou completamente. É a primeira vez que consigo isso desde... sempre! A conquista relativamente súbita desta capacidade tem uma causa: eu me converti.

    Eu sei, essa resposta não é oponível a todos, porque não faz sentido para todos. Mas eu preciso dizê-la, porque foi a coisa mais importante que já me aconteceu. Não vou reconstruir aqui toda minha biografia espiritual, que é muito extensa e passou por muitas fases desde seu início, no começo da idade da razão, até meu ateísmo aos 15 anos e meu gradual, inconsciente retorno guiado pela filosofia clássico-tomista e pela estética de Tolkien. Só quero dizer que não foi abrupto, ou inesperado (pelo menos para mim; a quem via de fora pareceu uma verdadeira revolução). O fato é que eu já estava completamente preparado para abraçar a fé católica já vinha alguns anos, pelas vias que eu mencionei. Faltava apenas uma muralha, que parecia intransponível: admitir a possibilidade epistemológica, ou razoabilidade, da fé. Quando me tornei ateu, em minha adolescência, não foi por revolta, mas por razões filosóficas e científicas. É claro que estas mesmas razões me fizeram voltar, depois de muito mais estudo, para ela. Mas o argumento principal era sempre essa inacessibilidade racional da verdade revelada. Eu dizia naquela época que voltaria a crer em Deus no momento em que se fizesse irrefutavelmente presente e verdadeiro diante de mim. É claro que eu jamais achara que isso fosse acontecer, mas eu não menti.

    No dia 23 de março de 2023, Ele se fez irrefutavelmente presente diante de mim. Nesta noite, saí para assistir um peça de teatro. A peça não era de tema sensível, mas acabou que teve algumas cenas sensuais. E, como qualquer um que assista teatro atualmente sabe, as companhias de teatro parecem ter uma síncope caso não coloquem algum nu em algum momento das peças.

    Na hora não foi nada de diferente de outros gatilhos. Senti imediatamente o urge, que não é (pelo menos para mim) uma sensação puramente psicológica, mas física. Sim, eu literalmente sentia uma coisa indizível em minhas partes íntimas, que não é ereção, em momentos de urge intenso. Enfim; terminada a peça pedi um uber para casa, e a corrida era longa. Durante o percurso, meditei sobre várias coisas que assisti na peça (era uma peça bonita, apesar disso), e em pouco tempo meditei sobre o sentido do Bem, do Dever e da vida humana. Nada de inédito: revisitava conclusões segundo as quais eu já vivia há bastante tempo. Mesmo ateu, tinha consciência da necessidade de um Bem objetivo impresso na natureza do Ser. Afinal, não é preciso nenhum salto de fé para concluir isso, basta estudar um pouco. Também tinha consciência de que viver conforme este Bem cognoscível não é só uma alternativa: é uma necessidade ética, derivada de uma ordem metafísica da realidade. E isso é verdadeiro com ou sem Deus pessoal, com ou sem vida após a morte. E eu meditava sobre como eu vinha tentando viver assim, e projetar minha vida no futuro assim. Meditei, então, sobre minha morte, e como eu gostaria que fosse: minha morte seria perfeita, pensara eu, se em meu último suspiro eu tivesse consciência de sempre ter vivido desta maneira, porque praticando este Bem eu teria, no sopro efêmero de minha existência, participado mais perfeitamente do Ser (já que estes conceitos são convertíveis). É quase como não morrer, mas morrendo (já que eu era ateu).

    Fiquei um pouco feliz lembrando disso, mas durou pouco. Imediatamente me dei conta do que estava sentindo: aquela sensação física do urge. Voltaram-me as cenas mais sensuais à mente. Os outros sinais de urge psíquico retornaram, como a falta de concentração, ansiedade, aceleração de batimento cardíaco. E então, talvez pela comparação entre esta realidade de meu corpo e a da natureza que acabara de refletir, eu me dei conta. Pela primeira vez na minha vida eu verdadeiramente me dei conta de que jamais iria conseguir fazer isso. De que jamais iria conseguir vencer este vício, esta desordem, este mal que habitava permanentemente em mim.

    A comparação entre minha mente e corpo lesionados, deturpados por este mal, com o Bem e o Ser, aos quais eu devotava minha vida, gerou um imperativo imediato: "ainda que eu jamais consiga vencer isso", pensei eu, "eu jamais posso parar de combatê-lo, porque a verdade e o bem são uma coisa só, e este vício é um mal". Senti-me corajoso, obstinado, mas profundamente triste. Um sentimento trágico, em essência: a constatação de que o dever ao qual sou obrigado é impossível de ser alcançado, mas que mesmo assim deve ser buscado, porque não há outra coisa a se fazer.

    Foi então que eu olhei para o céu e fiz minha primeira oração verdadeira. Acredito que a primeira em toda minha vida, porque estava informada não apenas de pleno conhecimento de minhas intenções e das possibilidades de seu destinatário, mas sobretudo porque estava preenchida de uma sincera e genuína (como nunca antes) sensação de dependência. Eu sabia que jamais iria conseguir vencer isso sozinho, porque minha história e a força deste mal me provaram isso. Portanto, eu pedi.

    Como disse, foi a primeira oração verdadeiramente cristã que já fiz (mais do que todas que fizera antes de meu ateísmo), porque nunca estive tão conscientemente humilhado e dependente antes. Não era somente um conhecimento racional de ser infinitamente pequeno: era a certeza física disso, integrada com uma conclusão metafísica e ética anterior. Foi também uma oração extremamente pequena, e sem fórmulas. "Deus, ajude-me", pedi, olhando para o céu noturno, sem nenhuma expectativa de ser ajudado, mas com toda a certeza de precisar desta ajuda.

    Imediatamente a sensação física e psicológica foi embora. Completamente embora. Instantaneamente! Eu fiquei em choque. Na hora eu sabia que foi um milagre. Na hora eu sabia que a oração havia sido atendida, e o motivo pelo qual fora atendida. Sem saber (e, é claro, numa proporção infinitamente menor) eu fizera uma oração ao mesmo estilo e no mesmo estado de espírito que a de Cristo no Horto das Oliveiras. Porém, no caso dEle, não foi atendido, porque precisava beber daquele cálice. E precisava para que naquele 23 de março de 2023 eu não precisasse mais beber do meu.

    A narração do meu milagre pessoal pode ter sido um anticlímax muito grande para o leitor. Quando disse que Deus se fizera presente irrefutavelmente diante de mim, posso ter sugerido a imagem mental de um êxtase como o de Aquino, São Francisco ou Santo Estêvão. Não; quem sou eu para uma experiência assim? Mas o fato continua o mesmo: Ele se revelou para mim, e de uma maneira tão cabalmente evidente que não posso negá-lO sem renunciar, com isso, tudo pelo que eu já vivi até hoje.

    É claro que isso é uma experiência individual. Este meu relato não serve, e nem poderia servir, para convencer ninguém. Eu mesmo, se não tivesse passado pessoalmente por isso, não tomaria como argumento para provar nada. Porque não é. Revelação individual obriga o indivíduo, apenas. Um terceiro pode justificar meu milagre com um placebo mental. Como um viés cognitivo qualquer. É claro que fica mais difícil sustentar isso vendo tudo que aconteceu depois (minha recuperação quase imediata da dependência de P), mas com algum esforço racionalizante, e alguma estatística, dá pra falar que não foi milagre.

    Mas eu sei que foi. Sei com a mesma certeza de que posso ter da intuição dos axiomas fundamentais. Sei porque foi comigo, porque o efeito foi em mim. E porque não me convenço de nenhuma explicação psicológica da minha superação. Por 15 longos anos estive sob a pata deste demônio que é a P. Durante este tempo chafurdei no lodo mais miserável do mundo da P, e cada vez mais parecia que o buraco ficava mais profundo, porque além de não dar para sair dele, o nível sempre descia cada vez mais. Por muitos anos tentei com todas as minhas forças (repito: com todas as minhas forças!) vencer isso de inúmeros modos. Apliquei várias metodologias, terapias diferentes, estudei o sistema dopaminérgico, utilizei bloqueadores de internet, fiz hard mode, easy mode, paguei curso, enfim, fiz tudo. O máximo que consegui foram 3 meses sofridamente levados, e ainda assim nem perfeitamente alcançados, porque escorregões com P sem M, ou M sem P, eram frequentes. E não é como se antes eu não tivesse esperança: pelo contrário, era antes, e não naquela noite do dia 23, que eu tinha otimismo! Eu tinha convicção de que eu venceria algum dia! Se existe algum viés cognitivo ou placebo mental capaz de fazer vencer a PM, era antes, e não naquela noite, que ele deveria operar! E, entretanto, o que não consegui de todas maneiras racionalmente possíveis, instantaneamente eu consegui após estas curtas palavras dirigidas ao céu. A Deus. E assim, de um segundo para o outro, a sensação foi embora, para sempre.

    Sim, nunca mais senti ela. Sinto vontade de chorar escrevendo isso, porque parece tão bom, tão bonito, tão imerecido. Porque parecia tão impossível; e entretanto tornou-se possível.

    Não quero dizer que nunca mais tive vontade, ou que desde o dia 23 nunca mais caí. Depois desta noite, em que eu definitivamente me convertera, eu comecei uma rotina de devoções e aprofundamento intelectual e espiritual na religião. Ainda estou neste caminho e pretendo nunca sair dele. Mas, nas semanas seguintes, talvez por não ter ainda pensado o suficiente sobre o assunto, acabei recaindo umas duas vezes. Com até mesmo algum grau de permissividade: julgara que o vício estava vencido e que não havia problemas, ou que o problema era menor, contornável. Só isso já denuncia que a situação era muito diferente da passada (em que eu não tinha sequer escolha no processo).

    Não demorou muito para eu refletir racionalmente pela impossibilidade moral, em qualquer caso, de P. Em seguida, de M. Acredito que antes do final de abril de 2023 (ou seja, menos de um mês depois) eu cortara completamente P e M da minha vida. Foi uma decisão tão natural, e tão segura, que nem marquei data. Não sei quando foi. Só sei que nunca mais caí, e nunca mais tive sequer urges.

    Sim, até os urges foram embora. Mesmo quando sem querer me deparo com antigos gatilhos, não sinto nada! Nada! É incrível. Parece que sou outra pessoa. O grilhão que me escravizava realmente foi rompido e jogado fora. Não sinto sequer vontade de M, mesmo quando estou com ereções involuntárias (p. ex., pelas manhãs, como é natural), ou quando estou em abstinência de S faz muito tempo. Aliás, até mesmo meu apetite por S se reduziu drasticamente (e eu sinceramente acho que este deveria ser o estado normal de um ser humano saudável), e mesmo nas situações de S não tenho mais vontade ou necessidade de visualizar mentalmente P (o que no passado, mesmo durante os períodos de abstinência, era completamente impossível de conseguir). Por isso que disse, e repito: eu venci! Eu venci! E eu não podia ficar sem falar isso para vocês, sem registrar isso no diário que abri, para terminá-lo com uma notícia tão boa, e para concluir esta história trágica com um final eucatastrófico (no sentido de Tolkien).

    É possível vencer. Não desanimem. Não quero dizer que somente com um milagre, ou somente se for religioso, consegue-se superar a P. Existem casos de pessoas que conseguiram por medicação, ou só por força de vontade. Cada história é uma história (e certamente - agora falo de minha opinião enquanto católico - em cada pessoa o Espírito Santo atua de uma maneira diferente). Aliás, todo meu testemunho de fé aqui não deve impedir nenhuma ateu de comprar meu argumento de que este vício é vencível: pode-se até dizer que não foi por um milagre ou por Deus a minha vitória, mas não se pode negar minha vitória. Ela aconteceu, é um fato. E é isso que queria dizer, para corretamente encerrar minha jornada e para dar esperanças a qualquer um que hoje esteja lendo este meu relato do fundo do poço. Do mesmo poço no qual eu me encontrava em 2021, quando abri este fórum.

    Disse "fim da jornada"? Não. Ela não termina aqui. Eu venci, não desminto isso. A corrente foi retirada de meu pescoço. Mas ainda existe. Está no chão, ao meu lado. Posso pegá-la e voluntariamente me acorrentar a qualquer momento - basta querer. Tenho consciência disso. Mas essa consciência é libertadora, porque eu não a quero mais. E porque confio naquele que me retirou do jugo do inferno, de onde eu jamais merecia ter saído por meus próprios méritos.

    Desejo, do fundo do meu coração, que consigam também vencer este mal. Despeço-me do fórum muito grato pela oportunidade que me deu de registrar esta fase final de minha jornada e, espero, pela oportunidade de motivar alguém com minha história. Em minhas orações não cessarei de pedir por todos que, assim como eu no passado, ainda não superaram esta doença do corpo e da alma.

    Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.
    Sicut erat in principio, et nunc, et semper
    et in saecula saeculorum.
    Amen.
     
    Last edited: May 1, 2024
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  20. Rafafa

    Rafafa Fapstronaut

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    Parabéns! Estou a quase 90 dias sem vontade, mas as vezes vem um pouco de desejo mas nada incontrolável como antes.
     
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